Canal Celta: 05/2007

20.5.07

Dies Nefastus


magine o quanto cruel pode ser a lembrança de um evento ao ponto de um povo situa-lo em sua narrativa histórica pelo singelo nome de ´´ Dia Nefasto´´? Sim, porque sob a alcunha de ´´Dies Nefastus´´ era como os romanos passaram a falar a respeito do ocorrido no dia 18 de Julho de 390 a.C que figurou como sendo o momento preciso em que os celtas cruzaram em seu destino para quase levar a emergente República de Roma à extinção .

De toda maneira os lances mais dramáticos ocorrem longe de Roma, há cerca de uns trinta quilômetros ao norte de suas muralhas para ser mais exato, bem a margem esquerda de um pequeno afluente - chamado rio Allia - entre vários que nascem do leito do rio Tibre do qual o nome com certeza ninguém prestaria maior atenção salvo pelo fato que bem ali houve a primeira grande derrota militar romana trazida pelas mãos de um povo julgado com desdém aos olhos de Roma como sendo meros ´´bárbaros´´. - Eis a Batalha de Allia !


A Batalha

Os celtas então já tinham colocado à pique Etrúria e continuavam em sua marcha em direção a Roma que em sobreaviso posiciona tropas as margens do rio Allia na intenção de deter a invasão massiva em seu território.

Estima-se que cada lado no campo de combate possuia igual contigente militar , algo ao redor de 40 mil para cada ´´ exército´´, sendo que pelos celtas havia guerreiros oriundos de várias tribos celtas ( sobretudo ínsubres, bóiis, lingones e majoritariamente senonês ) lideradas pela figura não menos lendária de ´´Brennus´´ enquanto os romanos viam organizados ao redor de 08 legiões ( com cinco mil centuriões em cada uma ) sob as ordens do experiente general Quinto Servio Suplicio .

Numa manobra ardilosa conta-se que Brennus no lugar de enviar os celtas em massa diretamente em confronto aos romanos ,
entricheirados na beira do rio e bem preparados para bloquear a invasão que se avizinhava, optou por dividir as tropas para um ataque em estilo de emboscada pelos flancos.


Apesar de todo este deslocamento adicional ter ocasionado uma demora considerável da chegada dos celtas no local onde seria o front de batalha, muito provavelmente gerando um estado de tensão absurda entre os romanos lá parados em prontidão por horas a fio à espera do pior, o fato é que esta estratégia ao final se revelou um sucesso pleno !

O fato era que justamente onde se deu os primeiros ataques célticos estavam posicionados os soldados mais jovens e inexperientes ( chamados de hastati ) que sendo mortos facilmente terminaram abrindo no flancos caminho por ser realizado um ataque céltico bem concentrado no ´´coração ´´ de onde as tropas romanas estavam posicionadas que ficando dispersadas demais para realizar qualquer contra-ataque não tiveram opção do que recuar .


Ao final desta batalha havia um saldo de mais de 15 mil mortos pelo lado romano contrapondo com algo ao redor de menos de 01 mil baixas pelos celtas que além disto estavam em melhor condições para avançar no ataque em direção a Roma onde lograriam chegar em questão de horas naquele mesmo dia trazendo caos e destruição pelo caminho.

13.5.07

Prelúdio da Batalha de Allia


Os celtas estão chegando !

Estamos no século IV a.C diante das frias montanhas verdejantes dos Apeninos ( hoje norte da Itália) onde aos seus pés montam acampamento várias tribos celtas estabelecendo dominio sobre uma região que vai desde ali até o norte do Rio do Pó.

Do outro lado da margem deste rio abre um rica fértil planice que para um povo já acostumado com as agruras do clima dos Alpes de onde seus antepassados mais imediatos vieram aquilo é uma visão que sem exagero era o mais próximo do que poderiam conceber como sendo um Paraíso ! Ocorre que este ´´pedaço de Éden ´´ tem dono e desde longa data um povo , os etruscos, lá levantaram dominio para fundar o que era um reino muito bem afamado e próspero do qual chamavam de Etrúria .

Ocorre que os etruscos daquele tempo estavam longe de serem tão poderosos como foram um dia seus antepassados mais distantes, não por menos fato era que mesmo o local em que os celtas fincaram como sua morada na região seria também em tese de posse da Etrúria e apesar disto não houve maior esboço de resistência para que tribos célticas chegassem vindas dos Alpes e estabelecessem sem maiores percalços por ali. (até se supõem que o local tivesse abandonado)

Neste contexto, se os celtas continuassem avançando, sendo eles em maior número, com maior experiência de batalha e melhor armados, dificilmente os etruscos poderiam fazer alguma coisa só que isto era algo que nem sequer passava pela cabeça deles deitados indolentes na lembranças de antigas vitórias de seus antepassados.

Não se sabe direito, porém, em algum momento celtas atravessaram o Rio do Pó e os etruscos os enfretaram saindo fragorosamente derrotados e criando tamanho pânico na população que ela em massa teria se deslocado em direção as fronteiras etruscas com Roma que se situava como antigo e duradouro aliado militar e parceiro comercial.

Falamos no caso de uma Roma que ainda é uma república praticamente recém-fundada que tinha um pouco mais de algo redor de dois séculos de existência, onde entre seus feitos de ´´prestigio´´ já acumulados estava por exemplo ter derrubado do poder o rei Lúcio Tarquino e fundado uma república fantoche na Etrúria sobre a qual detinham enorme controle . De toda maneira um ´´evento´´ pequeno em comparação aos feitos realizados posteriormente quando assumiram a condição de ´´ Império Romano. ´´

Roma marca sua presença no conflito :

Como é óbvio deduzir esta ´´presença romana´´ entre os etruscos fez que Roma fosse vista como verdadeira tábua salvadora da Etrúria pelos etruscos, mesmo os romanos não tardaram de enviar seus emissários para dar solução a este imbroligio celta-etrusco na região tanto pensando em deter a enorme vaga de fugitivos de uma guerra para as fronteiras romanas quanto para por um fim a possíveis pretensões célticas de expansão territorial em locais sob influência romana.

Assim, sem muita delongas foram 03 homens alçados a condição de ´´diplomatas´´ pela República Romana que eram acompanhados de perto por um pequeno contigente militar que supostamente lhe fazia proteção, tendo a árdua tarefa de costurar um acordo que selasse a paz definitivamente entre celtas e etruscos.

A chegada dos emissários romanos muito provavelmente deve ter gerado algum impacto entre as lideranças tribais celtas que até então jamais tinham ouvido falar de Roma e de seus ´´estranhos costumes´´ , fazendo que ficassem admirados seja pelos tom circunspecto e solene dos representantes da República Romana quanto surpresos de que os etruscos tivessem recorrido a um outro povo para resolver aquela pendência territorial entre eles.

Ao final os celtas ficaram propensos em aceitar cessar qualquer hostilidade caso os etruscos estivessem de acordo em cederem parte de suas terras ainda não cultivadas na Planície do Rio do Pó, porém, fazendo questão em alertar aos emissários romanos de caso houvesse recusa da oferta de paz lançariam sob seus olhos um ataque massivo contra toda Etrúria na intenção de conquistar tudo de modo que pudessem relatar aos seus líderes como seria difícil enfrenta-los no campo de batalha e assim ficassem com temor para partirem em auxilio dos etruscos. - ´Ao bravo pertencem todas as coisas ´, diziam eles seguindo a peculiar filosofia de vida céltico de dar valor em resolver seus problemas a partir do uso da espada.

A traição

Ao final os emissários romanos ajudaram foi no preparo dos etruscos para guerra, revelando a proposta de paz um grande logro em que na verdade os ditos ´´diplomatas´´ eram meros espiões por detrás das linhas inimigas, a tropa de guarda se revelando uma espécie de ´grupo de elite´ e mesmo um dos mais falantes negociadores de nome Quintas Fabius termina por matar uma das lideranças celtas se aproveitando para tanto da confiança e hospitalidade céltica.

Meio que imitando os romanos os celtas enviam seus emissários para Roma em que exigiam a entrega de Quintas Fabius para vingar a desonra que ele trouxe aos parentes do líder tribal ao mata-lo fora do campo de batalha, só que sendo ele filho de uma família rica e influente no Senado como era esperado ao final Fabius e outros envolvidos sairam são e salvos das acusações.
Naturalmente os celtas viram em tudo isto um grande insulto, algo que serviu como elemento que faltava para de pronto partirem para atacar Etrúria ao qual destruiram sem dó e nem piedade. Tudo isto criou cenário de uma batalha historicamente memorável entre celtas e romanos que ficou depois conhecida como a ´´ Batalha de Allias´´, tópico para o próximo artigo.