Canal Celta: 04/2007

29.4.07

Os celtas iniciam sua jornada

partir do inicio do século IV a.C tribos celtas passam a realizar conquistas de novos territórios pressionados por razões climáticas que tornavam seu habitat original mais seco e faziam sair em busca de áreas mais úmidas, fazendo curiosamente o caminho inverso que os teriam levado a chegar a mesma região lá por do século VI a.C também pressionado por alterações ambientais.

Ocorre que os celtas não estavam sozinhos nesta jornada já que este deslocamento em foco é parte de um processo mais abrangente que vai do século II a.C e se prolonga por mais de 03 séculos onde é observado fortes movimentos migratórios entre várias populações européias em direção a zonas mais férteis e com clima ameno no continente em detrimento da fuga de locais que cada dia ficam com temperaturas menos acolhedoras e pobres em alimentos. ( tal como era no caso os Alpes para os celtas )

Ao mesmo tempo que isto ocorria os celtas floresciam como civilização a partir do domínio da metalurgia do ferro, o que lhes rendia tanto uma supremacia militar face a grande maioria dos povos europeus ( ainda com armas feitas de bronze, cobre ou mesmo pedra polida ) quanto também criava a necessidade imperiosa deles saírem em busca de novas lavras de minério de ferro para suprir uma crescente demanda para forja de não só armas como bens e utensílios de uso cotidiano .

Saliente-se que esta busca contínua por novas fonte do metal de ferro é apontado ao lado das mudanças climáticas como um fator a mais para forçar a imigração céltica mesmo em direções do controle de territórios não férteis tal como a região da Meseta Espanhola e o centro da Turquia onde respectivamente Celtiberos e Gálatas firmaram sua morada.

No caso céltico o processo migratório gerou uma expansão territorial predominantemente em direção a oeste e sul da Europa a uma velocidade estimada na ordem de um quilometro e meio por ano que resultaram depois de alguns séculos deles saírem de uma região delimitada pelo curso dos rios Danúbio, Reno e Ródano para ocuparem uma vasto espaço geográfico que formava um longo ´´arco´´ tendo como extremidades as ilhas britânicas, passando por boa parte da Península Ibérica e cercanias até chegar o centro da Ásia Menor.

Paradoxalmente os celtas nunca chegaram a constituir um ´´ Império´´ e tampouco buscavam infligir sua cultura a outros povos apesar de sua primazia tecnologica inicial face outros povos bem como também pelo fato de estarem ´´espalhados´´ por uma vasta região territorial , pelo contrário seja com os vencidos, na condição de derrotados ou mesmo com seus aliados terminavam se ´´misturando´´ com eles ao longo de um gradual processo tanto sincrético quanto de mestiçagem que ao cabo de algumas gerações fazia criar uma identidade em comum.

15.4.07

Cernunnos

Quem é ele afinal?

ernunnos é representado como uma criatura quimérica cujo o culto que remonta a época correspondente se muito o início da Idade de Bronze, cujo o nome se supõem foi conferido muito após ter sido fixado a crença devocional nesta divindade a partir de uma imagem encontrada num baixo-relevo em Paris que reproduzia um homem sentado de pernas cruzadas que ostentava chifres na cabeça onde lia-se abaixo a inscrição ´´ ( C ) ernunnos ´´

Nas narrativas míticas a figura de Cernunnos como personagem é bem confusa já que existem momentos onde ele é descrito ao lado de uma figura feminina com poderes sobrenaturais sobre a Natureza que figura por vezes como sendo sua ´´mãe´´ e em outras é identificado como sua ´´esposa ´´ o que dá a vaga impressão da presença de um relacionamento incestuoso.

Para simplificar a compreensão do mito ficamos restritos ao que o poeta latino Marco Anneo Lucano ( 39/65 d.C) narra em breves passagens em ´´Pharsalis´´ , cujas as fontes históricas prováveis foram Tito Livio, Asinio Pollione e Sêneca , a saber que Cernunnos nasce sem chifres e reina no submundo de onde ajuda a comandar com sua ´´esposa´´( alguns a identificando sob o nome de Epona e outros como ´´ Dana´´ ) a vegetação e os animais até que em certo momento é traído por ela com ´´Esus´´ e dali surge uma ´´galhada´´ de cervo em sua cabeça.

A oportunidade desta traição surge por conta do fato que Cernunnos para cumprir com seus deveres tem que sempre durante certo tempo do ano recolher-se ao reino subterrâneo, deixando sua ´´esposa´´ sozinha por um longo período.

Observando que Lucius menciona no caso não bem diretamente ´´Cernunnos´´ e sim o amante fugaz de sua esposa a saber ´´ Esus / Albiorix ´´ onde o cita também sob a alcunha curiosa de ´´ Rei do Mundo´´ e sendo parte de uma espécie de´´trindade´´ em que figuravam ao seu lado de ´´Toutates / Teutates ´´ como uma espécie de ´´deus da guerra´´ e ´´Taranis / Caturix ´´ na condição de ´´Rei das Batalhas´´, fato que é curioso de analisar na medida em que vemos o mito de Cernunnos ter conotações mais que óbvias com assunto afetos mais fertilidade de maneira geral e agricultura de forma especifica do propriamente como tendo algo haver com batalhas , guerras e assuntos assemelhados como estas outras divindades citadas remontam arquetipicamente.

A sua verdadeira origem

O que surpreende logo de cara o mito de Cernunnos ao analisar comparativamente a mitologia celta é que ela não usa como recurso de enredo a figura de seres quiméricos, isto é, volta e meia até um personagem se ´´transmuta´´ em forma animal só que nenhum é representado como tendo parte humana e outra animal ao mesmo tempo.

Igualmente , a lenda em parte recorda o mito greco-romano de Hades e Perséfone / Proserpina onde ela passa metade do ano com sua mãe na superfície ( Ceres /Deméter ) e a outra parte no mundo subterrâneo ao lado de seu esposo. Havendo é claro claras reverências a todo uma simbologia também vinculada a temas de fertilidade, agricultura, mudanças de estação e etc neste mito greco-romano . Seria coincidência?

Graças a arqueologia um pouco do mistério ao redor da figura tão deslocada de Cernunnos vai aos poucos , a saber a suposição básica era que Paris tinha sido fundada por uma tribo celta
( os Parise ) que depois foi melhorada pelos romanos a partir de sua conquista por volta de 52 a.C caí por terra para ceder lugar a constatação de que a cidade foi na verdade erigida por completo pelos romanos desde o inicio.

Isto somado com a constatação que gregos pelo menos na região de Marselha e redondezas desde o século V a .C figura como bem provável que o culto ao deus cornifero tenha sido trazido embrionariamente para região através dos gregos e depois apossado pelos romanos que deram as narrativas sua conotação guerreira , surgindo depois os celtas ( ou melhor os parisi ) para incorporarem sincreticamente em seu corpo de crenças a figura de Cernunnos.

Outra alternativa além dos gregos que surge é que ligures ou etruscos tenham trazido sua contribuição para a formação da imagem do ´´deus chifrudo´´ na medida em que é uma imagem típica de divindade vista entre povos que viviam da criação de caprinos e pastoreio bem como também eram povos que margeavam a região.

8.4.07

Neodruidismo


e entre os europeus do continente o Movimento Renascentista conduziu em geral um reviver da antiga cultura greco-romana para os lados das ilhas britânicas sob sua influência houve ao lado disto um início de resgate do legado céltico que virou tendência mais tardiamente mesmo após do Renascimento ter tido seu fim historicamente.

Assim, nestas voltas inesperadas que o mundo dá na ordem dos eventos, o druidismo acabou ´ renascendo´ involuntariamente a partir do Século XVII pelas mãos do antiquário e escritor John Aubrey ( 1626/1697 ) que difundiu a idéia de que Stonehenge e outros sítios megalíticos como de Tower Hill, Primrose Hill e outros eram templos druídicos .

A idéia de Aubrey caiu com uma luva principalmente para a alta elite inglesa que se ressentia pelo fato do então emergente Império Britânico não poder ostentar o fato que seus antepassados tivessem criado algo tão portentoso arquitetonicamente como as pirâmides do Egito, o Partenon da Grécia e etc de modo que foi uma questão de tempo para tanto toda uma aura romântica e intensamente mística fosse estabelecida ao redor dos druidas quanto uma enorme curiosidade despertada de como seriam as cerimônias druídicas e seus conhecimentos.

Ocorre que como os druidas não deixavam registro escrito do que faziam e nem havia sobrado vivo algum remanescente do druidismo, salvo talvez na sua forma corrompida de superstição popular e charlatões , toda esta expectativa criada sobre o tema caí no vazio e gradualmente abriu-se mais espaço para especulação de hipóteses mirabolantes onde até lendas arturianas surgiam no meio.

Mesmo com tamanha falta de evidência termina-se criando em 1781 a ´Antiga Ordem dos Druidas´ como uma sociedade secreta que depois evoluiu mais publicamente para uma organização de socorro mútuo dos aos seus membros do mesmo modo como ocorreu como a maçonaria, iluminat e rosa-cruz .

Eis que surge na esteira destes acontecimentos a figura exótica de Edward Willians(1747/1826 ), também conhecido como Iolo Morgannwg , que anuncia o descobrimento do um manuscrito apócrifo medieval ( o Barddas ) e outros documento até mais antigos onde estaria prescrito todo o conhecimento druídico, suas cerimônias e etc.

Não tardou para que em 1819 Edward Willian com base nestas ´´descobertas´´ criasse uma associação com a National Eisteddffod do País de Gales que ganhou um grande prestigio e reunindo grande número de membros da alta sociedade que devidamente ´´vestidos como druidas´´ buscaram reviver os antigos rituais druídicos em Stonehenge na datas de cada solstício e equinócio durante o ano.

Muitas outras ´´ordens druídicas´´ foram criadas dali em diante, seja mesmo em dissidência ao grupo de Edward no País de Gales e principalmente em virtude de regionalismos , o que fez difundir o druidismo para Escócia, Irlanda, Inglaterra e etc . Porém, o processo de expansão do druidismo sempre foi focalizado nas classes mais altas da nobreza e burguesia do que entre o zé-povinho.

Tudo até aí corria bem e o druidismo parecia que ressurgia magicamente das cinzas depois de séculos, só que ocorre de que os manuscritos eram uma fraude e para piorar os sítios megalíticos que Aubrey imaginou como contemporâneos dos druidas eram na verdade construções bem mais antigas conforme pesquisas científicas depois puderam revelar no século XX .

Não obstante, apesar de toda refutação o fato é que até hoje é possível encontrar gente que alegue ser ´´druida´´ pelo mundo afora e mesmo Stonehenge acabou virando destino de peregrinação mística para muitos onde volta e meia pessoas até hoje se reúnem ´´fantasiadas´´ para que supostamente possam celebrar o que julgam ser rituais antigos na vã suposição que estão reproduzindo uma tradição milenar .

1.4.07

O Fim do Druidismo


´´Colocou-se então uma guarnição nas casas dos vencidos e foram destruídas suas madeiras consagradas a cruéis superstições.´´


ssim narra o historiador latino Publius Cornelius Tacitus ( 55 /120 d.C ) em seu livro ´´Anais´´ contando de maneira breve o que na prática levou a destruição da cidadela druida na ilha de Mona ( atual Anglesey ) , onde bosques inteiros foram derrubados, casas queimadas, altares postos ao chão e druidas passados no fio da espada.

Numa tosca ironia do destino coube a um nascido em Lugdunum na Gália (atual Lyon na França), o então Imperador Cláudio (10 / 54 d.C), dar cabo do último refúgio dos druidas que desde do tempo do ainda Imperador Augusto ( 63 a.C / 14 d.C ) eram perseguidos sem trégua para cessarem suas atividades em domínio romano. Ao final, no apagar das chamas lá por volta do ano 43 d.C , o Imperador Cláudio tinha varrido do mapa os druidas e de lambuja conquistado a Bretanha para o Império Romano !

Não resta dúvida que alguns druidas devem ter sobrevivido a este massacre, só que a estes restou como alternativa migrarem em direção as ´províncias romanas rebeldes ´ de ´Caledônia´ e ´Hibérnia´ ( Escócia e Irlanda ) que figuravam como lugares tão perigosos quanto de onde estavam fugindo já que prevalecia para aquelas paragens a lógica estreita tribal de que quem não fosse da ´´gens´´ não podia encontrar outro destino além da morte.

Assim, diria que provavelmente muitos druidas dos que escaparam da morte pelas mãos dos romanos na ilha de Mona atingiram seu fim certo no encontro de seus ´´irmãos celtas´´ lá na Escócia e Irlanda. Some a esta situação que cada morte de um druida, principalmente os mais velhos, representava um cabedal enorme de conhecimento perdido definitivamente já que tudo era transmitido e mantido na base da tradição oral e terá noção da gravidade do que estava ocorrendo.

Agora, mesmo imaginado que hipoteticamente algum druida entre os mais ´´ instruídos´´ tivesse logrado sobreviver a todas estas mazelas seria consideravelmente difícil dele encontrar pela frente novos discípulos para instruir seja pelo receio de cada tribo pelo ´´estranho´´ que lá chegava ou por falta mesmo de interessado já que viver na Escócia e Irlanda naqueles tempos não era tarefa nada fácil. ( quanto mais seria se deixasse um filho para ser druida quando podia ser mais um braço pra lavrar nos campos, caçar e etc )

Lembrando que para formação de um druida se fazia necessário um preparo de quase uma vida inteira dedicada a estudos e não por menos as pessoas voltadas a perseguir este objetivo tinham que em algum grau serem ´´ bancadas´´ socialmente, isto é, não se podia esperar que nem pegassem em armas para defender a tribo numa batalha e tampouco que ficassem disponíveis para tarefas mais rotineiras de cultivo dos campos, caça e etc. Em outros termos a tribo deveria ser de antemão bem próspera para que pudessem separar entre os seus alguns para serem druidas e dar-lhes condições de sustento.

Por tudo isto não considero possível conceber que houvesse ambiente propicio para o druidismo manter-se pé depois da destruição de Mona e o que de qualquer maneira ´´sobreviveu´´ deteriorou-se na forma de superstições e mandingas. Sem exagero os druidas ( ou aqueles que arrogavam este título ) ´´pós-Mona´´na Irlanda e Escócia em seus conhecimentos nem de longe faziam sombra do que representava o nível de erudição atingido pelos druidas graças ao contato que tiveram com a cultura greco-romana lá na Gália.