Canal Celta: 10/2006

30.10.06

HALLOWEEN NÃO É CELTA


Halloween é de longe um dos festejos dos mais populares entre países de língua inglesa, notadamente os EUA, sendo incorporado mesmo até por culturas de raízes não anglo-saxonicas a reboque da globalização a citar em destaque o Brasil que integrou a data em seu calendário quase extra-oficialmente por influência de uma vasta legião de ´´devotos´´ do chamado ´´ Dia das Bruxas´´ oriundos entre a classe média da população que jaz fortemente americanizada nos costumes e mesmo vinculada a movimentos neopagãos .

A explicação mais corriqueira dada é que o Halloween seja oriundo do céltico festejo de Samhan que também era celebrado em igual data, porém, ouso dizer que julgo tal afirmação é mais mito do que fato em verdade. Ora, se não vejamos :

Antes que o antigo inglês chegasse com os anglo-saxões em meados do século V era falado formas de céltico entre a maioria dos habitantes das ilhas que formam o que hoje conhecemos como Grã-Bretanha e República do Eire .

Deste modo, este festejo pela chegada de Inverno era chamado de ´Samhain´ na Irlanda e Escócia, ´Sauin´ em Man , ´ Nos Galan-gaeof ´em Gales e assim por diante. Agora, seja qual fosse a forma de designação deste festejo céltico realizado na chegada do Inverno ele NADA tinha haver com o que se faz atualmente no Halloween.

Aliás, decididamente pela origem da palavra ´´ Halloween´´ vemos que ela em termos lingüísticos nada compartilha em comum com ´´ Samhain ´´ e suas variantes idiomáticas célticas, deitando raízes mais na língua inglesa. Neste perspectiva é que é que em geral os lingüistas apontam que etimologicamente a palavra Halloween ( Hallowe´en tal como era escrito até por volta do século XIX ) pode ser derivado de ´´Hallow Evening´´ / ´´Noite Sagrada´´ ou mesmo situe como uma contração da expressão "All Hallows Eve" que significa em português "Véspera do Dia de Todos os Santos".

Eis que abre uma pista de que o ´´Halloween´´ tem algo haver com o chamado ´´Festum Omnium Sanctorum´´ / Dia de Todos os Santos que a Igreja Católica celebra no 01 de novembro junto com a ´´Comemoração dos Fiéis Defuntos ´´/ Dia de Finados a 02 de novembro.

Ocorre que estas datas originalmente não eram assim fixadas no calendário litúrgico, figurando respectivamente a celebração em honra de todos os santos e mártires ( conhecidos ou não ) para depois do domingo seguinte ao de Pentecostes ( tal como a Igreja Ortodoxa realiza até hoje) enquanto o dia dedicado aos falecidos apesar de uma tradição antiga que remonta desde o Século I não tinha data certa no ano para ser realizada.

Tudo muda lá por volta do Século VII quando por ordem diretas do então Papa Bonifácio IV ficou decretado o 01 de Novembro como o Dia de Todos os Santos e posteriormente por volta do Século
XIII o 02 de Novembro como Dia de Finados.

Agora é razoável indagar nesta altura dos motivos da Igreja Católica ter feito estas mudanças no seu calendário litúrgico, vindo as novas datas justamente a coincidir com uma miríade de celebrações pagãs que eram realizadas JUSTAMENTE nesta mesma época?!?!

Veja que se havia o Samhain dos celtas, também existia a Feralia dos Romanos e outras tantas cerimônias pagãs voltadas a celebrar a chegada do Inverno que eram bem difundidas para todos recantos do continente Europeu e que persistiam sobrevivendo de maneira até sincrética entre as camadas mais populares mesmo que apesar de convertidas ao cristianismo.

Ao meu ver, não resta dúvida que para Igreja tudo ao fundo foi uma mera questão de substituir estas celebrações pagãs ainda persistentes em sobreviver nos corações e mentes de seus fiéis em favor de uma comemoração que na essência é da mesma natureza só que em moldes a ser aprovada pelo alto clero à luz da doutrina que pregavam, isto é, se temos hoje católicos celebrando seus santos e falecidos outrora tínhamos pagãos cultuando seus deuses e antepassados.

Voltando ao Halloween, tão hoje enraizado nos costumes norte-americanos , vemos que a sua celebração nos tempos coloniais era inexistente até por conta do rígido código moral do primeiros colonos que eram puritanos , mantendo-se assim por um bom tempo até por volta do Século XVIII quando surge de forma tímida festejos voltados a celebrar a colheita a partir de Maryland em direção ao Sul e assim ficando um costume muito localizado onde nota-se que estes ´ritos´ de raiz européia eram extremamente misturados com crenças de índios americanos e afro-americanos, porém, nada nem de longe parecido com o que hoje se vê num ´´ Dia das Bruxas´´.

Apenas na segunda metade do século XIX , mais precisamente em a partir de um grande massa de imigrantes vindo da Irlanda para os EUA fugidos da ´´Grande Fome´´em 1846 que realmente vemos o Halloween nascer. Abrindo um adendo que o costume chega pela mãos de imigrantes CATÓLICOS irlandeses, sendo assim tem pouco haver com o cerimônia céltica de Samhain e mais com um festejo religioso sincrético muito carregado de superstição criado para justapor a doutrina da Igreja Católica sobre os costumes pagãos do que qualquer outra coisa.

Já no inicio do século XX há uma tentativa despir o conteúdo supostamente ´´místico-religioso´´ do Halloween para dar a ele ares mais ´´carnavalescos´´ vamos assim dizer , sendo um grande fator de influência nesta direção os já enraizados costumes de festivais de colheita no sul do país que ´´evoluíram´´ também para incorporar concursos bizarros como de ´´´comer torta´´, ´´ miss da colheita´´ e por ai vai.

O reforço por fim ressurge já lá nas décadas 50/60 pela mãos de movimento neopagão, principalmente pelos praticantes de Wicca que se auto-intitulam ´´bruxos modernos´´ e fiéis legatários dos celtas, onde os neopagãos operam sobre o Halloween um processo parecido feito antes pela Igreja Católica com o Samhain e tantos outros festivais pagãos a saber dão a data um outro sentido para ficar mais ´´palatável´´ a doutrina que pregam. Com efeito falam toda sorte de absurdo tal como por exemplo ser o Halloween um ´Sabá ´ e uma data mágica que antes era pelos celtas celebrado o Samhain até a chegada do cristianismo.

O insulto final desta grande onda de desinformação em torno do Halloween surge já nas décadas 80/90 do século XX pelas mãos da industria de cinema e diversão norte-americana de Hollywood que faz a festa produzindo a rodo filmes e enlatados de TV de gosto duvidoso em que a temática de Terror e Suspense é explorada a partir da associação do ´´ Dia das Bruxas´´ com eventos sinistros, diabólicos e normalmente sangrentos.

Como tudo mais no Capitalismo o resto vira exploração comercial, aproveitando o Halloween para promover toda sorte de eventos que vão desde festas de fantasia até liquidações. Sabe-se lá onde isto vai chegar...

29.10.06

Parshell




s celebrações por ocasião do Samhain ao todo reunia 03 dias, iniciando ao por-do-Sol do dia 31 de Outubro e finalizando no amanhecer do dia 02 de Novembro.Entre tantas cerimônias realizadas a mais marcante se traduzia na confecção de uma espécie de um pequeno ´talismã´, chamado de Parshell, a ser colocado estrategicamente na entrada de cada lar céltico que tinha a fama de poder afastar maus espíritos e o azar.

Curiosamente se formos analisar comparativamente os costumes de outros povos vemos que não eram os celtas a única cultura a usar este tipo de objeto, onde por mais variação de forma e finalidade tivesse o objeto de fundo a intenção era criar uma espécie de ´´proteção mágica ´´ sobre a família e sua casa.A citar temos, por exemplo, o ´Mezuzá´ (do hebraico מזוזה "umbral") que é afixado no umbral direito de cada dependência do lar, sinagoga ou estabelecimento judaico onde é reproduzido um pequeno rolo de pergaminho (klaf) que contém as duas passagens da Torá (Deuteronômio 6:4-9 e 11:13-21) em que é ensinado o respeito ao Criador sobre todas as coisas.


Mezuzá


No caso dos celtas o Parshell era uma pequena cruz feita de madeira e amarrada ao centro com palha que era pendurada na porta de casa que lá ficava até o Samhain do ano seguinte quando solenemente era retirado após falar e queimado numa das fogueiras acessas no alto das colinas mais próximas.

Se por curiosidade você deseja ter seu Parshell, eis a receita :
1- Em primeiro lugar tenha em mãos o seguinte :
  • duas varetas de não mais que 60 cm de comprimento ( tipo daquelas usadas como espeto de churrasquinho )
  • cerca de 01 cm de diâmetro de palha ou fita.
2 - Entrelace a palha ou fita ao redor do centro da cruz formada pela duas varetas cruzadas até que apenas sobre cerca de 10 cm da vareta expostos em cada extremidade de modo que o objeto tenha a seguinte forma :


Parshell


Na prática todo este ato cerimonial calava ao fundo d´alma celta e mesmo servia para pela fé acumulassem forças para enfrentar dias piores que no caso não tardariam em chegar por conta do Inverno. Assim, todo este ritual de ir colher os gravetos, desfiar a palha em fios e etc tinha uma função enormemente catártica já que tudo era realizado com toda pompa e circunstancia na idéia de que um instrumento de poder estava ali sendo criado e de certa forma era verdade na medida em que intimamente perspectivas sombrias eram afastadas da mente .

28.10.06

Samhain



s dias ficam mais curtos e as noites mais longas, a melancolia e angústia batem a porta de cada lar celta, sendo época de guardar a colheita em lugar seguro bem como também é o tempo de sacrificar parte da criação defumando sua carne para conserva-la no frio. Tudo é pensado no sentido de passar sem maior aperto durante o Inverno e chegar são e salvo na Primavera

Contudo, apesar de todos os esforços é certo que muitos não irão sobreviver por não possuirem força suficiente para superar o período de forte frio, doença e fome que está para chegar. São crianças da mais tenra idade, gente doente e pessoas idosas com consciência plena de que a morte está rondando que acrescentam um tom de angústia marcante nas preocupações cotidianas entre aqueles que mesmo jovens e saudáveis estão tensos pela perspectiva de perder seus entes queridos tal como normalmente acontece em cada Inverno.

Assim surge o Samhain (Samonios na Gália) que era um festival comunal realizado pelas celtas por volta do dia 31 de outubro que marca a chegada da estação do Inverno pelo Hemisfério Norte onde como ponto alto das festividades são acendidas grande fogueiras nos altos das colinas em uma vã tentativa de trazer a luz de volta perdida do Sol ao mundo imerso em trevas.

Os celtas em suas crenças acreditam piamente que no Samhain as portas do submundo estão abertas, deixando a passagem livre para horrendas criaturas sombrias chegarem até ao mundo dos humanos e almas condenadas vagarem sem rumo entre os vivos, porém, nem tudo é tão terrível já que também neste dia os antepassados já falecidos podem ser invocados para proteção neste momento tão aflitivo.

Nota-se um caráter catártico latente no Samhain para os celtas, isto é, todos estavam francamente aterrorizados em relação ao futuro pela experiência tidas em outros Invernos no passado e com este festival em parte aliavam suas tensões, brincando e celebrando com prazer a vida ao lado daqueles que amam. Porém, apesar de todo clima festivo é certo que a morte está ocupando lugar de destaque em cada coração e mente seja como lembrança de pesar pelas vítmas de outros Invernos , por conta do temor pela própria sobrevivência ou sentimento de ansiedade pelo risco de vida inerente para cada um que se ama.

De todas os Festivais Célticos este é o mais sóbrio na comemoração em termos do consumo de comes e bebes já que não era sensato haver desperdiço em virtude de guardar viveres durantes o período do Inverno, havendo um clima reinante de ´´despedida´´ entre os presentes já que se intuía que muitos poderiam morrer.

22.10.06

Arte Celta



Da noção do Bem e Mal na formação de senso estético

Naquela perspectiva tão peculiar e maquineista derivada da visão judaico-cristã surge o ´´Mal´´ como aquilo que é feio, assimétrico e disforme, figurando como contra-ponto necessário do ´´Bem´´ que aparece como belo, simétrico e com formas definidas. Neste sentido , o tido como ´´maligno´´ não surge pelo som angelical de uma melodia tocada em uma harpa, nem pelas letras de uma bela poesia e tampouco constitui algo agradável de ser visto.

Não obstante, pela visão pagã mais ancestral some esta dicotomia entre Bem e Mal , não mais ignorando como desprezível o lado sombrio da Natureza, seja a crueldade dos deuses ou ainda as pequenas maldades cometidas por nós reles mortais ao longo da vida em razão de motivos banais, pelo contrário tudo é colocado sob ponto um de vista de situar tais características ´malignas´ como imanentes a todas as coisas o que conduz ao final uma narrativa na constituição dos mitos que é tão cativante quanto sedutora do que vemos hoje como pecado, encaramos com medo e por aí vai.

Como a arte céltica se apresenta

Eis o sentido do grito apavorante de Morrigan no inicio de cada batalha, da melodia diabólica que Macha entoava para aterrorizar seus inimigos ou do canto de lamento de Brigith no túmulo de seu filho e tantas outras manifestações vistas na mitologia celta que envolvem um sentimento de terror sem par só que ao mesmo tempo são carregadas de enorme beleza sem que possa ser identificado aquilo como sendo uma manifestação maléfica tal como veríamos sem receio de erro tomando a perspectiva atual de Bem e Mal criada sob inspiração da cultura judaico-cristão.

Em todos estes casos citados é verificado a presença de um conceito estético entre os celtas que vai além da tosca busca da simetria como ideal de perfeição e se parte para algo mais abstrato que só pode ser assumido como ´´sutilmente ´´ belo. ( apesar de ser facilmente encarado como feio e sem sentido aos mais desavisados )

Aliás, num pequeno adendo, tudo nas lendas célticas tem um fundo de enredo tão profundamente trágico como grandiosamente épico sem que se possa contar no arremate de cada história com uma situação de anti-clímax que gere aquele final no melhor estilão ´´foram feliz para sempre´´ ou dali se retire um ensinamento moral para servir de guia aos leitores em suas vidas .

Os celtas em relação aos outros povos de sua época

Mesmo em comparação a outros povos da época como os egípcios, gregos e romanos as obras de arte dos celtas poderiam parecer rudimentares e primitivas na sua singeleza, porém, ocorre que não havia ali intenção mesmo dos celtas de retratarem fielmente a realidade do cotidiano até pelo fato de que o real e o imaginário serem confundidos sem a menor cerimônia por eles !! Sem exagero algumas peças artisticas parecem ter saído dos dias atuais das mãos de um artista performático oriundo de algum movimento de vanguarda nas Artes Plásticas! .

Assim, cada obra de arte celta terminava por transmitir uma experiência subjetiva do artista e causava certa impressão nos sentidos do observador que só é conseguida caso choque os padrões naturais de linearidade do cérebro bem com também gere uma forte reação emocional que manda as favas qualquer possibilidade de fazer racionalizações a respeito do evento , o que faz ficar próxima a tendências modernas de arte contemporânea que vão mais em direção do inconsciente.

Claro que falo de exemplos não ´contaminados´ pelo estilo greco-romano tão em voga naquele tempo, pois existiam sim peças criadas por celtas que notadamente seguiam o que estava na linha artística ditada pelo Império Romano sem demonstrar maior criatividade na sua composição. Na Gália, por exemplo, havia profusão de imagens de divindades célticas que na aparência eram muito similares dos deuses cultuados aos romanos muito embora a própria idéia prestar idolatria a imagens era algo estranho a cultura celta mais antiga.

Cultura de Hallstatt como representativa maior da arte céltica


Nesta perspectiva , falo da produção artística realizada pelos celtas no primeiro estágio do que se conhece como ´Cultura de Hallstatt ´ ( nome dado por conta dos achados arqueológicos na região alpina de Hallstatt / Áustria ), algo bem antes do tempo quando travaram contato com gregos , ligures e etruscos ( algo por volta do Século VI d.C ) que gerou o período de Arte Celta conhecido como La Tène ( cidade suíça ) quando notamos uma certa perda de identidade cultural originária em favor de assumir uma postura mais sincrética onde elementos célticos se misturam com tendências artisticas de outros povos.

Um bom exemplo do que estou falando encontramos nos chamados ´´ knotworks´´ que são uns desenhos entrelaçados realizados com uma linha continua que fluí formando tramas elaboradas sem-fim em curvas , zig-zags ou em espirais . É possível ver tais desenhos em peças feitas em base seja de metais pouco nobres como cobre ou ferro bem como também em ouro e prata, em tecido em lã ou couro animal e etc.

15.10.06

OS SANTUÁRIOS CÉLTICOS


s santuários célticos eram ao ar livre e consistiam em um círculo de pedras que demarcavam uma área de cerca entre 6,50 a 30 metros aproximadamente, onde no centro era elevado o ´´CRONLECH´´ ( altar ) feito de uma grande pedra colocada à maneira de uma mesa sobre outras pedras que serviam de apoio.Invariavelmente estes círculos sagrados ficavam perto de um rio, próximo a um bosque ou à sombra de um frondoso carvalho ( o visco que nascia junto a estas árvores eram considerados pela sabedoria popular como um remédio milagroso para todos os males do corpo e um bálsamo mágico para um espírito conturbado )

Não obstante, esta é a descrição dos santuários de culto mais voltado ao grande público, pois haviam os construídos em lugares elevados com grandes pedras ou montões de pedras no alto dos morros ( eram chamados de ´´CAIRNS´´) onde supostamente ritos secretos druídicos eram realizados tanto para cumprir fins iniciáticos quanto atuarem como pontos de recolhimento para meditação isolada daqueles situados na mais altas hierarquias entre os druidas.

Os mais apressados concluiriam que construções como Stonehenge seriam um exemplo destes santuários célticos, porém, em verdade muito tempo antes da chegada dos celtas às ilhas britânicas vindos da Gália é fato que estas e outras construções em pedra já estavam de pé. Aliás, além de uma datação mais antiga, Stonehenge, Tower Hill e outras grandes construções em pedra espalhadas por vários sítios arqueológicos britânicos , não eram dispostas ao acaso para formar círculos, pelo contrário há indicio de haver uma clara intenção dos construtores de coloca-las em direções astronomicamente precisas de modo que pudessem saber exatamente a época de mudança de estação, ciclos da Lua e etc segundo a observação do alinhamento dos astros com estas pedras, a projeção da sombra do Sol e assim por diante.

Por hipótese é factível supor que os celtas uma vez chegando as ilhas britânicas e tendo contato com estes monumentos passassem a explica-los dando um sentido místico-transcendental próprio mais de acordo com suas crenças religiosas do que fosse algo representativo das concepções do povo construtor daqueles artefatos.

Assim, teriam os celtas feito seus círculos de pedra talvez por imitação daquelas enormes construções que encontravam em ruínas por todos os cantos, apenas dando a elas formas de proporções mais modestas e sem se preocupar de dispo-los de maneira astronomicamente precisa bem como também figurando estes locais mais como santuários do que observatórios astronômicos improvisados como era no passado mais remoto.

8.10.06

Brigith : Uma Deusa que virou Santa?



om a expansão do cristianismo entre os celtas suas antigas crenças sofreram um grande baque, porém, aquilo que não foi suprimido pelo descrédito ou eliminado brutalmente sob inspiração da intolerância religiosa dos recém-convertidos a nova fé persistiu residualmente na forma de sincretismo onde muitos deuses e deusas do panteão céltico terminam por se transformar em santos da Igreja Católica Apostólica Romana.

Neste processo de ´´cristianização´´´ das divindades célticas um bom exemplo foi o que aconteceu com Brigith cujo o culto era muito popular que passou com a ascensão do cristianismo a ser venerada como Santa Brígida de Kildare cuja a hagiografia dá conta ter ela nascido na Irlanda por volta do ano de 450 no vilarejo de Leister em Faughart perto de Dundarlk de onde partiu muito depois para fundar o monastério de Cill-Dara em Kildare onde veiu a falecer em 25/02/ 525. ( sendo enterrada em Downpatrick ao lado de São Colombus e São Patrick , vindo posteriormente a compartilhar a condição de co-padroeira da Irlanda com estes santos )

Há a claro a possibilidade de longe de ser uma mera personagem fictícia ter sido a Santa Brígida uma homônima da Brigith deusa , porém, vemos que existem semelhanças entre a vida das duas que supera qualquer coincidência e levanta a devida suspeita de que mesmo tendo existido a Santa Brígida não resta dúvida que seus biógrafos forçaram uma barra para que as duas fossem confundidas de modo que o culto a Brigith pelos celtas fosse pelo sincretismo substituído sem problema numa forma mais ´´aceitável´´ de devoção pelos recém-convertidos ao cristianismo.

Assim, por exemplo, se bem a Brigith como deusa era filha de um rei ( Dagma ) vemos que Brígida como santa tinha como pai aquele que era o chefe do vilarejo ( Dubhthach ) , a Santa era uma mulher dedicada a arte ( chegou a fundar uma escola sob os auspícios da Igreja para o estudo da arte ) e literatura ( famosa especialmente como autora do ´´ O Livro de Kildare ´´) enquanto a divindade céltica era considerada patrona das Artes e Poesia, o emblema da santa era uma vela acesa porquanto da deusa fosse considerada uma divindade do fogo e finalmente o dia santo da Santa Brígida é o 01° de fevereiro que justamente recai na mesma data quando era no passado celebrado pelos celtas um festival sagrado em honra a Brigith ( Imbole )

Curioso notar ainda que uma outra santa com o mesmo nome só que de procedência sueca, a saber Santa Brígida que figura como padroeira da Suécia e co-padroeira da Europa ao lado da Santa Catarina de Siena e Santa Teresa Benedita da Cruz, também guarda suas semelhanças. Vemos, por exemplo, que ela era filha do governador da Uplândia na Suécia tal como a Santa Brígida de Kildare tinha como pai o chefe de uma vila enquanto a deusa detinha um rei como figura paterna, fundou um monastério tal como a santa irlandesa e por aí vai.

1.10.06

A Vida de Brigith


Uma aliança inusitada surge

o final da guerra com os Fir Bolgs os Tuatha Dé Danann finalmente tinham conquistado um espaço para firmar seu reino, porém, pairando sobre suas cabeças havia tanto a ameaça dos Fomorianos de virem em socorro de seu aliados ( os Fir Bolgs ) quanto passavam por sérios problemas ligados a buscar um sucessor ao Rei Nuada que estava segundo as tradições dananianas impossibilitado em continuar como monarca daquele povo por conta de seu grave ferimento em combate que rendeu a amputação da mão.

A solução para este grave problema surgiu das mãos de Dagma, regente por tantos anos dos dananianos antes de passar o poder para o jovem guerreiro Nuada, onde o velho rei sugeriu forjar uma aliança com os Fomorianos a partir do casamento de sua filha Brigith com o guerreiro Bress ( filho do Rei Elethan ) onde seria oferecido como dote o direito dele ser o monarca dos Tuatha Dé Danann em sucessão de Nuada.

De outro lado com este casamento é certo que Dagma garantiu de certa maneira o retorno de sua família ao poder, o que não poderia ter conseguido de outro modo seja por conta de sua idade avançada quanto não ter filhos varões ao trono. Sem esquecer o não menos importante fato que Bress abdicasse ou morresse seria Dagma a assumir a posição de regente até quando seus netos crescessem.

Ao final o que era para ser uma aliança de mera conveniência política entre dois povos inimigos terminou se revelando um amor verdadeiro entre Bress e Brigith , nascendo desta união como fruto Rúadan, Brian , Iuchar e Iurbarba. Porém, nem tudo eram flores como veremos a seguir....

Bress revela sua verdadeira face.

Apesar de ter com Brigith quatros filhos, Bress fez questão de ´´expurgar´´ deles qualquer sinal de mácula de fraqueza por terem nascidos ´´ mestiços´´ pelo fato de parte do seu sangue fomoriano ter sido ´´misturano´´ aos dos dananianos. Assim, Rúadan, Brian , Iuchar e Iurbarba foram desde cedo afastados da mãe e mesmo dos seus parentes do lado materno, sendo criados como se fossem Fomorianos.

De todos seus filhos Brigith manteve pouco contato com exceção de Rúadan que nascido fraco e franzino ficou mais tempo ao lado da mãe, desfrutando do convívio com os Tuatha Dé Danann de um modo que nunca conseguiram seus outros irmãos. Apenas na adolescência é que finalmente Rúadan finalmente passou a conviver com seus parentes paternos.

Muita embora esta tamanha hostilidade de Bress com Brigith , o fato é que ele era apaixonado por sua esposa bem como se revelou nos primeiros anos como sendo um monarca razoável dos Tuatha Dé Danann neste tempo todo que estava casado. Infelizmente com passar do tempo Bress se revelou um tirano, apenas interessado em retirar toda a riqueza de seus súditos com altos tributos cobrados em favor dos Formorianos e nem de longe preocupado com o bem estar dos Dananianos.

Como é óbvio deduzir foi uma questão de tempo para esta situação deteriorar em direção de gerar finalmente uma guerra entre os Formorianos e os Tuatha Dé Danann. Agora entre tantas morte ocorridas neste conflito houve apenas uma que foi lamentada tanto por Formorianos como os Tuatha Dé Danann, a saber o falecimento de Rúadan . Contam as lendas que a deusa traduziu em prosa e verso toda sua dor pelo filho perdido, entoando um canto fúnebre em seu enterro que além de ser considerada a mais bela poesia já escrita também era de trazer lágrimas e obscurecer o coração do mais insensível entre o seres.