Canal Celta: 12/2006

31.12.06

Os Gálatas


Os celtas que todos esquecem :

uita coisa é escrita a respeito dos celtas localizando o tema apenas em torno de tribos que povoaram as ilhas britânicas e o norte da França, significa dizer falando essencialmente sobre os gauleses, galeses, pictos, bretões e escotos.

Ao final muitos esquecem por completo de outras levas de migrações célticas para regiões bem mais distantes no plano geográfico do que estes estreitos limites definidos entre as ilhas britânicas e o norte da França, havendo até suspeita deles terem chegado ao Novo Mundo e lá firmado incipientes colônias muito antes de Cristovão Colombo e da época das Grandes Navegações.

Um belo exemplo são os Gálatas, um povo oriundo originalmente da Gália ( atual França ) a partir de uma imigração para a região central e norte da antiga Ásia Menor ( atual Turquia nas cercanias de Ancara ), iniciada se supõem lá por volta do ano 280 a.C, motivada para escapar dos germanos com quem travavam enormes batalhas por conta de disputa de dominio territorial.



Galácia / Galatatia

Fonte : Wikipédia
Os Gálatas e Galácia :

Fica complexo definir qual tribo céltica da Gália deu origem aos Gálatas , muito embora não resta dúvida que não era assim que se auto-denominavam na medida que etmologicamente a palavra vem de ´´galátai´´ / bárbaro era como os gregos os chamavam e posteriormente os romanos também por imitação.

Mesmo propriamente a Galácia foi uma criação dos romanos que a transformaram em província do Império Romano por volta do ano 25 a.C quando juntaram às terras antes ocupadas pelos gálatas que correspondiam apenas ao equivalente a região centro-oeste da Província também as possessões de Frígia, Pisídia , Licaônia e Isáuria para compor todo território provincial.

Cabe observar que não foi de maneira mansa e pacifica que a Galácia foi criada, já que a incorporação territorial foi criada a medida que os gálatas como aliados dos romanos venciam tribos rebeldes ao Império Romano. Diga-se de passagem que era lutas travadas no melhor estilo de guerrilha, forjando escaramuças e armadilhas para tropas romano-gálatas já que os seus inimigos eram povos nômades da montanha e deserto.

Infelizmente, o último rei gálata, Amintas, morreu numa destas batalhas sem deixar herdeiros presumiveis e em ato de última vontade , para que uma guerra civil não estourasse na busca de um novo regente da Galácia , legou o seu reino aos romanos que não tardaram em transforma-la em Província do Império Romano no final do mesmo ano da morte do monarca (25 a.C) quando por fim debelaram os povos rebeldes na região.

Ao final de reino céltico para província romana a Galácia serviu de cabeça de ponte para o Império Romano firmar seu poderio militar na localidade e posteriormente expandir as possessões romanas até lá e neste meio tempo os gálatas impediram que invasões de ´´hordas bárbaras´´ vindas da Ásia gerassem maiores problemas para Roma.

A Aliança Romano-Gálata :

Pode parecer deplorável que os gálatas lutassem muitas batalhas que em verdade o resultado final só interessava Roma, só que não pode ser ignorado que em verdade eles não eram menos ´´invasores´´ da região do que figuravam os romanos! Sim, por que cercados de vizinhos hostis não restava opção senão firmar uma aliança com os romanos para ter meios e modos de vencer as tribos da localidade, não sendo ao meu ver por efeito mormente tão-apenas uma atitude de irrefletida submissão dos gálatas face aos romanos.

Resta indagar se não tivesse ocorrido a morte de Amintas, algo muito ´conveniente´ de ter ocorrido para Roma na ordem da sucessão dos eventos, teria o Império Romano aceitado de bom grado a existência da Galácia como reino independente? Aliás, os gálatas a longo prazo não poderiam ansiar ampliar seus dominios mesmo em direção a possessões romanas?

25.12.06

O Bom Velhinho Celta !



Do Rei do Inverno ao Papai Noel !

lgumas tribos celtas nutriam a crença de que ao tempo do Festejo de Yule surgia exótica figura de um ser sobrenatural descrito como um homem de idade bem avançada, munido de um grande cajado de carvalho, expressando em seu rosto sempre um ar bonachão que vinha emoldurado com vasta barba e cabelos tão brancos como a neve que chegavam até o chão e confundiam-se com suas vestes com ares meio espectrais que tinha o poder mágico de entrar nas casas sem ser visto ou ouvido, onde chegava para dar presentes para as crianças.

Ledo engano se você pensou que estou falando no Papai Noel, não na verdade quem eu estou descrevendo é um personagem chamado pelos celtas como o ´´ Rei do Inverno´´ que se fazia presente por ocasião da chegada do Inverno ( algo por volta do dia 21 /12 ou mais tardar )

Em verdade não só os celtas, mas também outros povos contemporâneos a sua época celebravam aquilo que o Festejo de Yule representava ritualisticamente a saber a chegada do solstício de inverno no Hemisfério Norte. Deste modo, tinhamos além da céltica comemoração do Yule , o ´´Natalis Solis Invicti´´ ( Nascimento do Sol Invencível ) dos mitraístas, a Saturnalia pelos romanos e assim por diante.

O Natal sendo criado como uma ´tradição cristã´

Pode parecer bizarro só que o fato inconteste é que o Natal até os meados do século IV d.C não era celebrado entre cristãos quando na época o Papa Júlio I ( 337 / 352 ) fixou a data como sendo do nascimento de Jesus Cristo ( que segundo evidências bíblicas mais provavelmente teria nascido em Outubro ), justamente para solapar antigos costumes pagãos voltadas a celebração do solstício invernal na europa .

De outro lado não deixar de ser importante frisar que no papado de Júlio I teve especial preocupação tanto em dar combate ao arianismo que como doutrina negava a natureza divina de Jesus Cristo bem como também reivindicava primazia sobre as igrejas cristãs de rito oriental, isto é, de certa forma foi um lance político de mestre vincular a data de 25/12 tanto a figura de São Nicolau ( falecido ainda no ano de 342 d.C ) que vinha de terras orientais e era ardoroso crítico as teses arianas quanto firmar a celebração de Jesus Cristo entre populações pagãs !

Passaram os séculos e por obra e graça deste forçado sincretismo religioso de costumes pagãos com o cristianismo criado lá a partir do século IV d.C por obra e graça do Papa Júlio I deram base ao que hoje é conhecido como ´´ Natal´´ com o ´´Rei do Inverno´´ e outros tantos personagens pagãos similares tomando a forma do ´´Papai Noel´´ e o banquete realizado ritualisticamente pela chegada do inverno se transformando na ceia tradicional natalina.

De festa religiosa para grande evento comercial

São poucos que conhecem a origem verdadeira do Natal e mesmo recordam remotamente de seu sentido cristianizado, passando esta data a figurar como uma forma a mais de alavancar as vendas no comércio de grande magazines em favor de conquistar enormes lucros e a ser encarado pela grande maioria com mais um feriado entre tantos que apenas se distingue dos demais pelo consumismo desenfreado e figurando como outra oportunidade de se empanturrar de comida que fará mal a sua saúde enquanto enche a cara até cair bêbado.

Assim, no lugar de um data de fraternidade surge como um tempo em que preferencialmente ocorrem casos gravissimos de violência doméstica, acidentes de trânsito por embriaguez irresponsável de alguns motoristas, internações inesperadas em hospitais e tudo mais de pior.

Por seu lado crianças e adolescentes impulsionados pela mídea exigem cada vez mais de seu pais, só que não carinho e amor filial como deveria se esperar e no lugar aproveitam a data para pedirem de maneira canhestra e chantagista por presentes caros onde ficam estampados marcas consideradas da ´´última moda´´ quando não revelam ser produtos tanto inúteis quanto de gosto duvidoso.

Tanto pior para os países do sul do Equador que incorporam hábitos alimentares ligados ao Natal que nada condizem com período da estação em que vivem, isto é, se bem chega o solstício de inverno pelo hemisfério norte pelo sul surge o solsticio do verão trazendo consigo dias de temperatura elevada e propenso para comidas leves e não algo tão gordurento como um ´´peru´´ assado, comer frutas tão calóricas como castanhas ou beber bebidas tão ´´quentes´´ como vinho tinto!!!

Vira a época do Natal, sem falso exagero, como uma porta aberta para o desenvolvimento de futuras cardiopatias, hipertensão, colesterol alto e tudo mais de pior para saúde. Pior ainda que gastando os olhos da cara, já que tudo ou quase tudo de uma ceia natalina é importado !!!

Agora, acusam que ser contra a celebração do Natal é ser anti-cristão, porém, a questão é que nada de cristão existe na raiz das tradições natalinas e nem o que há em vigor hoje em dia no Natal passa perto do que pregou Jesus Cristo em seus ensinamentos !!

Se eu posso dar conselhos diria que aos cristãos aproveitassem esta data para refletirem e voltassem pensar no que REALMENTE significa ser cristão bem como também aos neo-pagãos alertaria sobre o que tem de ser resgatado a respeito desta data que possa contribuir para construção de uma sociedade mais sadia e fraterna.

17.12.06

Existia uma religião céltica?


ntes de mais nada é preciso salientar que o druidismo apesar de encarado comumente por muitos como um exemplo mais que perfeito de ´´religião celta´´o fato é que figura tal idéia como uma absoluta impropriedade, já que os os druidas eram vistos no meio social mais similarmente como sendo uma espécie do gênero dos filósofos, cientistas ou eruditos do que propriamente ´´sacerdotes´´. ( ou mesmo ´´ magos´´ diga-se de passagem )

Em verdade não só o druidismo não era uma ´´religião céltica´´ como não havia entre os celtas uma fé universal, fixa e determinada, pelo contrário tantos eram os celtas quanto diversas constituam as formas deles manifestarem suas crenças , variando ainda mais na medida que travavam contatos com outros povos os quais terminavam ´´fundindo´´ como fosse só uma cultura, o que nos leva concluir que falar na existência de uma ´ religião celta´soa como um completo disparate.

Realmente tinham os celtas um complexo panteão de divindades o que poderia servir de esboço para formação de um sistema religioso próprio , só que eles em cada tribo cultuavam com primazia uma divindade sobre as demais o que ao final atuava como fator a mais para fragmentar a crença religiosa céltica . Assim temos, por exemplo, em várias tribos uma supremacia no culto de divindades como Lugh de maneira quase exclusivista, ao ponto de nomear o local em honra deste deus como é o caso de Londres e Lyon.

Deste modo, como não havia um conjunto bem sistematizado e fechado de valores de fundo religioso entre os celtas bem como também o quadro geral de crenças célticas figuravam perigosamente tanto ´´fragmentadas´´ quanto dominadas por um sincretismo descaracterizador de sua cultura originária, o fato é que eles nunca chegaram a constituir um movimento religioso organizado que fosse fruto direto de suas manifestações culturais e História ao qual pudesse nomear como ´´´religião céltica´´ tal como visto em outros povos , a citar seja o hinduísmo originado entre povos do subcontinente Indiano, o judaísmo entre os hebreus no Oriente Médio e por ai segue.

10.12.06

Monasticismo Celta-Cristão


á por volta do século IV d.C começaram surgir comunidades cristãs em maior extensão na Europa frouxamente organizadas pelos fiéis que haviam optado por levar um estilo de vida asceta dedicada a oração em lugares mais propícios para realizar um retiro espiritual na intenção de assim buscar a expiação dos seus pecados e obter a redenção pessoal.

Até então a grande maioria levava uma vida de eremita errante ( quando não peregrino por lugares santos para o cristianismo ) sobrevivendo graças a caridade alheia e daquilo que podiam retirar como sustento da Natureza , assim passando a maior parte do tempo solitário e enfrentando enormes privações enquanto procuravam uma revelação mística-transcendental que os conduzisse para mais perto de Deus.

Agora se nos primeiros tempos o deserto egípcio e redondezas no Oriente Médio eram o destino escolhido de maneira preferencial entre os primeiros místicos cristãos já na Europa as distantes ilhas britânicas revelaram em seu interior lugares ideais para tanto realizar um retiro espiritual bem solitário, seja formar comunidades isoladas quanto também realizar um trabalho missionário de vanguarda entre povos que nem ao menos tinham ouvido falar de Jesus Cristo . ( como era o caso de certas tribos de pictos ou gaélicos )

Ocorre que com tempo ficou flagrante que muito mais que o mero distanciamento geográfico com Roma havia nestas comunidades de organização monástica a adoção de costumes bem diferentes daqueles praticados por cristãos romanos e mesmo ocorria a defesa de uma doutrina não muito coincidente com a elaborada como corrente de pensamento pelo alto-clero da Igreja Católica.

Sem margem de exagero tal situação apontava para uma direção de rompimento inevitável e criação de um racha no seio da cristandade européia entre a Igreja Celta e a Igreja Romana tal como só ocorreria com o Cisma Oriente-Ocidente no século IX e o surgimento do Protestantismo no século XV , porém, houve a tempo uma reação bem orquestrada promovida pela alta cúpula do clero romano no sentido de buscar meios de firmar a autoridade papal mesmo naquelas localidades tão distantes ao lado de um laborioso esforço de dar combate a qualquer heresia que se colocasse sobre a ortodoxia do pensamento dominante a respeito dos ensinamentos de Jesus Cristo que Roma buscava estabelecer.

Não fosse tal ação é bem provável que ascensão romana por via do catolicismo na cristandade teria ficado restrita a certas regiões contíguas do Mediterrâneo localizadas justamente nas cercanias de Roma, com o Norte e Centro da Europa entregue a influencia majoritária do emergente ´´cristianismo celta´´ ( talvez solapando o surgimento do Protestantismo mais adiante ) com a ´´ Igreja Celta´´ também se desenvolvendo de maneira autônoma do Papado tal como ocorreu no Oriente com o credo ortodoxo.

Especulações à parte depois de um tempo de conflito entre a antiga Igreja Céltica e o Papado ao final com a realização do Sinodo de Whitby em 644 ficou consolidada a fé católica romana, muito embora em alguns pontos da Irlanda e Escócia por muito tempo após esta data certos mosteiros ainda mantiveram certas diferenças de pé no tocante a maneira de conduzir sua administração e outras pequenas coisas que não se mostravam diferenças relevantes à luz da doutrina.

Ao final estes monastérios na Irlanda, nascidos originalmente numa ânsia espiritual de uns poucos abnegados que chegavam as ilhas britânicas mais preocupados acima de tudo com questões d´alma e em fazer caridade do que voltados para fazer políticagem rasteira com questões de fé religiosa, serviram como grandes bibliotecas que preservaram os clássicos greco-romanos para que fossem ´´resgatados´´ depois da Idade das Trevas e assim conferindo meios de um ´´renascimento´´ cultural na Europa séculos depois.

2.12.06

A verdade sobre São Patrício


atrício , sem sombra de dúvida a figura central do processo de evangelização irlandesa , nasceu celta-bretão por volta do ano 380 d.C na condição de filho um diácono e neto de um padre que em meio de muitas atribulações em uma vida de cativeiro como escravo desde os seus 16 anos até os 22 anos de idade na Irlanda ( para onde foi levado seqüestrado supostamente por piratas ) assumiu o papel de ´´evangelizador cristão´´ após um um longo tempo de vivência em claustro e meditação no mosteiro de Ésir na Gália (atual França), já que em trinta anos teria segundo a Igreja Católica Apostólica Romana "fundado 365 igrejas, sagrado o mesmo número de bispos e ordenado 3000 presbíteros" ao ponto da Irlanda ficar conhecida como ´´ "Ilha dos Mosteiros" e assim ´´a fé em Cristo fora firmada em todos os lugares" , o que lhe rendeu anos após sua morte a canonização como ´´ São Patrício ´´ e assunção como ´´ Santo Patrono da Irlanda ´´

Sem querer dourar a pílula ou ser afrontoso com os católicos devotos do santo o fato é que o nome de Patrício é mais um exemplo entre tantos da maneira indevida e injustificada como a Igreja Católica Apostólica Romana buscou firmar sua autoridade e primazia em meio aos cristãos de orientação não papal, pois a doutrina religiosa seguida por ele em NADA tem haver com o constante no catolicismo e no lugar surge uma melhor ´´sintonia´´ entre o pregado por grupos considerados como seitas heréticas´´ pelas autoridades eclesiásticas católicas da época .

Prova de que Patrício seguia ritos e uma doutrina cristã diversa da aceita pelo catolicismo estão em fatos como de que ele realizava batismos apenas de crentes confessos e por meio de imersão ( não admitindo assim, por exemplo, o batismo infantil por aspersão como comumente é feito por sacerdotes católicos ) , declara a rejeição ao dogma romano da transubstanciação durante a Eucaristia ( onde os católicos concebem de maneira literal que o vinho e a hóstia consagrados na missa transformem respectivamente no sangue e a carne de Cristo), jamais ministrou a extrema unção a doentes e moribundos, nunca realizou a confissão e a absolvição sacerdotal ,jamais instruiu seus convertidos a prestar homenagens a Maria e assim por diante.

Aliás, as igrejas fundadas por Patrício na Irlanda fogem totalmente do que a concepção católica romana estipula em termos de hierarquia , a citar o exemplo que ´´bispo´´ não figurava como um chefe sobre várias igrejas em diferentes paróquias e sim como simplesmente o pastor de uma congregação só que situado em nível mais ´´experiente´´ ( tal como é visto em muita igreja protestante atualmente ) Diga-se de passagem que mesmo a autoridade papal foi firmada sobre o clero irlandês de maneira mais clara muito tempo depois a partir do Sínodo de Whitby ( em 664 ), pois o que se via até então era uma intensa rivalidade em várias perspectivas com o ´´cristianismo romano´´.

Deduz-se que se o cristianismo trazido pelas mão de Patrício a Irlanda não era estritamente o apregoado pela Igreja em Roma é de supor que fosse outra ´´coisa´´. Eis que para muitos esta ´´coisa´´ seria o chamado ´´cristianismo celta´´ que em reunia de maneira harmoniosa elementos da cultura céltica com os do ´´cristianismo primitivo´´. ( leia-se anterior a fundação da Igreja Católica Apostólica Romana )

Ah , sim para finalizar é bom recordar que o dia 17 de março, celebrado tão festivamente na Irlanda e por descendentes irlandeses como dia de São Patrício, muito provavelmente foi firmado pela Igreja Católica como uma tentativa de solapar tradições locais que na mesma época abriam comemoração ao Festejo de Ostara ( equinócio vernal pelo hemisfério norte ). Assim, uma data ´´celta-pagã´´ transforma-se por ´´mágica´´ num importante acontecimento para ´´celta-cristãos´´ e católicos do mundo inteiro.